O CIDADÃO RJ

quem foi o homem que dá nome à capital da Paraíba

Foto/Reprodução. Silvio Osias

O político João Pessoa morreu há mais de 90 anos, mas seu nome permanece vivo na capital da Paraíba, que completa 439 anos em 2024. O Jornal da Paraíba conversou com a historiadora Loyvia Almeida sobre quem foi João Pessoa, qual sua participação na história do país e suas contribuições para a política brasileira.

Quem foi João Pessoa?

João Pessoa nasceu em Umbuzeiro, no Agreste da Paraíba, membro de uma família oligarca, uma das mais poderosas e tradicionais do Estado, no período da Primeira República. Ele era sobrinho de Epitácio Pessoa, que foi o chefe político do estado, entre os anos de 1915 e 1930.

Segundo Loyvia, João Pessoa foi embora da Paraíba muito cedo, ajudado por seu tio. João Pessoa teve sua formação no Rio de Janeiro, onde chegou ao cargo de Ministro do Superior Tribunal Militar. Cargo esse que ocupava, quando foi chamado pelo próprio Epitácio, para ser Presidente da Paraíba (Governador).

Rochas foram colocadas no sopé da barreira do Cabo Branco, em João Pessoa. Reprodução/TV Cabo Branco

Carreira política

Enquanto membro do Superior Tribunal Militar, João Pessoa foi o responsável por julgar os envolvidos no movimento Tenentista.

Logo se via, que pela sua formação militar, rígida, e autoritária, João Pessoa não possuía a habilidade política de conciliar. Não era um político profissional

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

Em 1928, Epitácio Pessoa, após “sofrer” com sua última indicação para o cargo do executivo paraibano, João Suassuna, o ex-presidente da República decidiu indicar um membro da sua família para o cargo. O pensamento era de que João Pessoa poderia conciliar melhor os interesses de grupos do Litoral e do Sertão.

A ascensão de Suassuna ao governo do estado em 1924, marcava pela primeira vez, a preponderância da elite oligárquica do sertão, sobre a do litoral. Todos os antecessores, eram do litoral. Suassuna, como homem do sertão, procurou em seu governo, beneficiar a oligarquia a qual fazia parte. Isso desagradava os correligionários e o epitacismo do litoral

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

Na época, havia uma expectativa enorme quanto a João Pessoa. O próprio João Dantas, que mataria João Pessoa, antes de sua chegada à Paraíba, publicou um artigo sobre o quão benéfico poderia ser o governo de João Pessoa, que deveria implantar um governo mais racional e moderno no estado. Por sua formação ter se dado na capital do Brasil, na época, seu pensamento era tido como mais moderno.

Passagem pela Paraíba

Por não morar na Paraíba, João Pessoa não era familiarizado com a política coronelista que se perpetuava no estado.

Ao chegar na Paraíba e perceber essa realidade, que não existia na capital do país, logo após o choque inicial, João Pessoa deu início à uma inovação na Paraíba, que já estava em vigor em quase todo o resto do país: um governo racional e centralizado

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

De acordo com Loyvia, isso implicava em tirar o poder dos coronéis e trazer esse poder para a esfera do estado. Do ponto de vista racional, a política de João Pessoa foi totalmente acertada. Contudo, do ponto de vista político, foi um grande erro, pois como o próprio Epitácio lhe escreveu em carta “velhos hábitos não se extirpam do dia para a noite”.

A política racionalista de João Pessoa entrou em choque com o poder ilimitado dos coronéis. Além de baixar um decreto exigindo que todos os coronéis se desfizessem de suas armas, João Pessoa destitui chefias locais e municipais que governavam há anos.

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

Vários coronéis paraibanos enviaram cartas a Epitácio para fazer queixas de seu sobrinho. A base do epitacismo começou a se corroer e se dissipar. A gota d’água foi a reforma econômica que dentre outras coisas, tentava diminuir a dependência econômica da Paraíba frente a Pernambuco.

Relação com Getúlio Vargas

Em meio a tudo isso, no plano nacional, o país se mobilizou para as eleições presidenciais. São Paulo rompeu o acordo firmado com Minas Gerais, a chamada política do café com leite, ao indicar um outro paulista para a sucessão presidencial. As oligarquias de Minas e do Rio Grande do Sul se organizaram em torno de uma chapa de oposição, a fim de derrubar o candidato paulista, Júlio Prestes.

A chapa de oposição chamada de aliança liberal era encabeçada por Getúlio Vargas (que ainda não era aquele Vargas que conhecemos), mas já era um político de expressão nacional

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

Vargas sabia que precisava do apoio do Nordeste para conseguir desbancar a situação e vencer as eleições, explicou Loyvia. Mas, nenhum estado do Nordeste quis apoiar a empreitada da Aliança Liberal, exceto, a pequena e brava Paraíba. Consultando Epitácio Pessoa, João Pessoa deu o seu sim a Vargas, tornando-se seu vice na chapa de oposição.

As eleições ocorreram, mas a situação manteve seu favoritismo e venceu o pleito. Consultado sobre tomar o poder a força, João Pessoa teria dito “prefiro 10 Júlios Prestes a uma única revolução”.

Revolução de Princesa

Com as políticas impostas, João Pessoa comprou briga diretamente com a oligarquia do Sertão, que tinha relações econômicas diretas com o estado vizinho. O ápice de toda essa crise culminou na Revolução de Princesa Isabel, quando o Coronel José Pereira e seus correligionários, abandonaram a base do governo, declarando o município independente da Paraíba.

Passado o pleito, João Pessoa volta seus olhos novamente para a Paraíba, mais especificamente a guerra contra os coronéis em Princesa Isabel. A situação se radicaliza cada vez mais. João Dantas era filho de família oligárquica também. Sua família tinha relações com a família do coronel José Pereira, líder da revolta contra João Pessoa.

Portanto, a família Dantas sofreu retaliações de João Pessoa. João Dantas e João Pessoa trocaram ofensas e ameaças pelos jornais da época. O ápice dessas ameaças foi a prisão de um irmão e uma tia de João Dantas, na própria fazenda da família. Em resposta, Dantas intensificou o tom das ameaças a João Pessoa, que deu a ordem para que a casa e o escritório de João Dantas fossem invadidos

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

Nada foi encontrado, a não ser cartas íntimas, trocadas entre João Dantas e sua namorada, a professora Anayde Beiriz. As correspondências foram expostas, e o ato gerou a fúria de João Dantas, que prometeu vingança.

A morte de João Pessoa

No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi ao Recife para se encontrar com amigos. Andando de bonde e lendo o jornal, João Dantas descobriu onde ele estava estava almoçando. João Dantas pegou seu revólver e foi em direção a confeitaria Glória, onde entrando, teria se aproximado da mesa do ex-presidente de estado, gritado “João Pessoa, eu sou João Dantas”.

João Pessoa morreu na mesma hora. João Dantas, recolhido à cadeia do Recife morreria dias depois.

Na área da história, costumamos dizer que João Pessoa serviu a Vargas muito mais na morte do que em vida. O seu assassinato serviu para reavivar a aliança liberal, o sentimento de tirar o poder dos coronéis

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP
Arquivo

Consequências da Morte de João Pessoa

Como consequência, uma revolução pelo alto (revolução de 30), conduzida pelas oligarquias de oposição à São Paulo e pelos tenentes militares, levou Vargas ao poder, de onde ele só sairia 15 anos depois. Sem o assassinato de João Pessoa, a história do Brasil seria outra. Muito provavelmente Vargas não teria chegado ao poder.

João Pessoa se tornou um mito simbólico, um mártir, uma imagem fabricada que serviu ao jogo político da época. Havia quase que uma canonização de sua pessoa. As mulheres rezavam para João Pessoa em busca de milagres.

Loyvia Almeida – doutoranda em história pela USP

Seus antigos inimigos foram perseguidos e alguns mortos, como seu antecessor, João Suassuna, que foi assassinado por ser amigo e ter relação familiar com os Dantas.

A comoção nacional de sua morte serviu para alimentar a deposição das velhas oligarquias e pôr fim à primeira República.

João Pessoa em vida foi presidente da Paraíba por apenas dois anos. Em morte tornou-se o símbolo da opressão das oligarquias. Na maioria dos estados da federação se tem uma rua, avenida, praça, logradouro com seu nome.

A mudança do nome da capital de Parahyba para João Pessoa aconteceu menos de três meses após o assassinato. Com a forte comoção e uma grande pressão popular, os deputados estaduais aprovaram o projeto de lei autorizando a troca no dia 4 de setembro de 1930. Junto com o nome da cidade, também foi trocada a bandeira da Paraíba.

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