A Noite Americana, que conheci há 50 anos, é um filme sobre cinema que François Truffaut, uma das cabeças da Nouvelle Vague, realizou em 1973.
O título – noite americana – vem de um efeito usado nos estúdios de cinema. É quando, com a utilização de filtros, uma cena noturna é filmada durante o dia.
Em inglês, noite americana é day for night. E foi assim – Day For Night – que o filme de Truffaut se chamou quando lançado nos Estados Unidos.
Em A Noite Americana, há um filme dentro de um filme, e este se chama Eu Vos Apresento Pâmela. A Noite Americana se passa num pequeno estúdio na França e acompanha as filmagens de Eu Vos Apresento Pâmela.
Em Pâmela, um jovem casal vai visitar os pais dele, e o sogro se apaixona pela nora. O romance é mostrado apenas superficialmente, e o desfecho é trágico.
Quem intepreta o casal é Jean-Pierre Léaud, o alterego de Truffaut no ciclo Antoine Doinel, e Jacqueline Bisset, que, àquela altura, era uma estrela em Hollywood.
Quem dirige Pâmela é um cineasta chamado Ferrand. Quem faz o papel de Ferrand é o próprio Truffaut, que também gostava de atuar como ator.
Na foto que ilustra a coluna, Alphonse/Léaud e Julie/Bisset recebem instruções de Ferrand/Truffaut durante as filmagens de Pâmela.
François Truffaut tinha 41 anos quando realizou A Noite Americana. Na juventude, migrara com êxito da crítica de cinema para a realização de filmes.
Ao lado de Jean-Luc Godard, fundou a Nouvelle Vague, onda que, a partir da França, revolucionou o cinema do mundo na virada da década de 1950 para a de 1960.
Mas Godard e Truffaut estiveram sempre em lados opostos. Godard fez cinema de ruptura, de reinvenção. Truffaut trabalhou com modos mais clássicos de construção das narrativas. Ambos, imprescindíveis.
Em A Noite Americana, Ferrand tem um sonho rcorrente, apresentado em fragmentos. Eles vão se juntando e, por fim, mostram um garoto roubando os cartazes de Cidadão Kane na frente de um cinema.
O sonho do menino Ferrand pode ser interpretado como um retrato do instante em que o cinema salvou o menino Truffaut da marginalidade.
Dizem, muito comumente, que A Noite Americana é uma declaração de amor ao cinema. A Noite Americana é sobre o amor de um homem pelo seu ofício.