Ontem mesmo eu recebia em mãos o fantástico livro do escritor uruguaio Eduardo Galeano, “Fechado por Motivo de Futebol”, e comecei a lê-lo avidamente, encantando-me e me embalando com as histórias sobre “a única religião sem ateus do mundo”.
Foi um autopresente que chegou desavisadamente nesse sábado (24) pelos Correios.
Abri-o de imediato. Instantaneamente comecei a me emocionar, a me impactar com o que lia, empolgando-me por perceber que dali a algumas horas também eu estaria num estádio de futebol.
E foi ali naqueles momentos anteriores ao jogo do Botafogo-PB, ainda impactado com o magnífico título do livro, que eu reforcei a minha tese de que o torcer é muito mais do que assistir a um jogo de futebol. Torcer, para além de assistir, é se tornar cúmplice, partícipe, responsável, testemunha, protagonista.
Torcer não é apenas viver o futebol, é ser o futebol.
No caso desse sábado, acompanhado de outros milhares, o encontro seria no Estádio Almeidão, para assistir a mais um jogo do Botafogo-PB na Série C, dessa vez contra a Ferroviária, ressignificando a própria vida, a própria existência, o próprio ritual cotidiano de ir ao encontro do futebol.
Na verdade, como já antecipei, o futebol está em nós. É parte intrínseca da existência torcedora. Ainda assim, vai-se ao encontro do futebol no instante em que ele se transforma em centralidade maior. No instante, portanto, em que o torcedor vai ao encontro de si mesmo.
É quando incorro ao título do livro de Galeano e subverto-o em favor do líder isolado da primeira fase do Campeonato Brasileiro da Série C de 2024.
Fechado por motivo de Botafogo-PB, amigo. Volte mais tarde. Ou nem volte, se não for para falar da vitória por 2 a 0 em cima da Ferroviária, até então o último dos invictos da Série C deste ano e que ainda não tinha levado mais de um gol em uma mesma partida da competição.
Fechado por motivo de Botafogo-PB porque, afinal, enquanto o Belo joga, nas horas que antecipam a partida até a primeira hora após o apito final, a vida converge para o futebol, para o jogo, para o Belo, para o campo, a arquibancada, o torcer, o sonho, a magia, a esperança.
Eu sei, eu sei!
Nada é mais perigoso, nada é mais incrivelmente bonito de se observar, do que um torcedor esperançoso.
Esperança, afinal, não é certeza de nada. Nem de que sim, nem de que não.
Esperança, insisto, não é nada mais do que a mais sublime percepção de que “pode ser que dê”, de que “este ano tem tudo para ser diferente”, de que “este ano vai”.
Calma!
O fato inescapável, entretanto, ao menos por ora, é que vai começar agora uma nova competição. Bem mais curta do que essa que se encerra, e que todos os clubes que seguem vivos recomeçam com pontuação zerada.
Não importam mais os 41 pontos conquistados, a liderança isolada, as 12 vitórias, os 33 gols marcados, os 12 gols de saldo positivo, a invencibilidade em casa.
São mais seis jogos, seis semanas, seis histórias, seis capítulos, seis novas possibilidades de sonhar. Um sonho que, diga-se, já perdura onze anos.
De resto, eu não sei de mais nada.
Mas sei que, nesses próximos seis encontros com o imponderável, seguirei fechado por motivo de Botafogo-PB.