Fernanda Niquirilo
Educação e Cidadania
Em São José dos Campos, a sala de aula da Educação de Jovens e Adultos (EJA) vai além do conteúdo didático: é um espaço de sonhos, recomeços e transformação de vidas. No mesmo ambiente, aprendem lado a lado pessoas como Geraldina de Moura Santos, aposentada de 61 anos, e Gabriel Leite, de 15 anos. Duas gerações diferentes, mas com o mesmo propósito: seguir em frente por meio da educação.
“Eu me sinto viva estudando. Tenho orgulho de mim, por ter voltado, por mais que sempre tenha alguém fale que não tenho idade, que já sou velha, que gente velha não presta para mais nada, mas isso não existe, não tem idade pra estudar. A gente nunca é velho demais pra aprender”, diz Geraldina, emocionada, ao relatar sua trajetória de retorno aos estudos depois de décadas afastada da escola.
“Eu já pensei em desistir, achei que não ia conseguir, mas o meu coração quer concluir e chegar até o fim. Depois que eu vim pra EJA eu fiquei mais animada, só tenho a agradecer por todos que estão aqui”, destaca.
Assim como ela, mais de 700 alunos estão matriculados atualmente na EJA municipal, que atende jovens a partir dos 15 anos, adultos e idosos, oferecendo a oportunidade de concluir o Ensino Fundamental de forma gratuita e acessível. Com aulas no período da manhã, tarde e noite, nos modelos presencial, semipresencial e flexível, o programa é adaptado à realidade de quem precisa conciliar trabalho, casa, filhos, responsabilidades e os estudos.
Superando barreiras desde cedo
Gabriel representa o outro extremo da faixa etária da EJA. Aos 15 anos, encontrou na modalidade uma nova chance de se reconectar com o aprendizado. “Aqui me sinto acolhido, me respeitam. Voltei a ter vontade de estudar, crescer e sonhar com um futuro melhor, estar aqui vai me ajudar a ter um bom emprego”, afirma.
Gabriel Leite, de 15 anos, voltou a estudar pela EJA e hoje sonha com um futuro melhor por meio da educação | Foto: PMSJC
Histórias como as de Gabriel e Geraldina são o retrato de como o acesso à educação pode resgatar a autoestima, abrir portas e promover cidadania. Seja por conta do trabalho precoce, questões pessoais ou falta de acesso no passado, cada aluno da EJA tem um motivo único para estar ali, mas todos compartilham da mesma coragem.
Quem ensina também aprende
Essa jornada de transformação também toca profundamente quem está do outro lado da lousa. Renata Faili, professora de Língua Inglesa há 3 anos na EJA, se emociona ao falar da troca com os alunos.
“A gente percebe neles uma vontade genuína de aprender, uma gratidão imensa. Cada aula vira um encontro humano, é algo que me transforma como educadora e como pessoa. Estar aqui é um aprendizado constante, eu penso que temos desafios assim como as diferenças que percebemos entre eles, alguns alunos estão há muito tempo fora do ambiente escolar e temos que fazê-los se sentirem acolhidos na sala de aula e mostrar que eles são capazes”, relata.
Professora Renata Faili, que há três anos ensina Língua Inglesa na EJA, usa jogos e materiais interativos para tornar o aprendizado mais leve e divertido | Foto: PMSJC
Já Lourdes Fernandes, professora de Geografia na EJA há 4 anos, destaca os desafios e recompensas do trabalho. “Temos alunos que saem do trabalho direto para a escola, outros que criam filhos sozinhos. Mesmo cansados, eles estão lá. E isso nos inspira a dar o nosso melhor todos os dias. Aqui temos muitas histórias marcantes, mas acredito que a grande emoção seja quanto o aluno entende e aprende o que precisa, porque muitos alunos chegam com vergonha ou traumatizados da infância, o que dificulta bastante o processo de aprendizagem, então acredito que o que marca é isso, nós ficamos muito felizes”, afirma.
Além de ensinar conteúdos, os professores se tornam aliados na construção de confiança e no fortalecimento do senso de pertencimento dos alunos.
A rede de ensino municipal de São José dos Campos oferece a EJA em 18 escolas, com mais de 600 vagas disponíveis. As inscrições podem ser feitas durante todo o ano, tanto diretamente nas escolas quanto pelo telefone 156 ou no CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos), localizado no CEFE, na região norte da cidade.
Não é preciso lembrar a série em que parou, nem apresentar um histórico escolar detalhado. Basta a vontade de recomeçar!
Mais do que aprender, é sobre acreditar
A Educação de Jovens e Adultos é mais do que uma modalidade de ensino. É uma política pública que promove dignidade, abre portas e transforma realidades. Ao dar novas chances, ela mostra que nunca é tarde demais para aprender — e que conhecimento, quando acessível, é capaz de mudar o rumo de uma vida.
“Quando entrei na EJA, voltei a acreditar em mim. Voltei a sorrir. A EJA me deu forças pra continuar”, conclui Geraldina, com brilho nos olhos e caderno na mão.
Em São José dos Campos, cada história na EJA é uma inspiração e todas juntas constroem uma cidade mais inclusiva, justa e humana.
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